segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Pesquisador volta à linha de frente

Berlim (DW) - Um dos pesquisadores que descobriu o vírus ebola, em 1976, foi o professor belga Peter Piot, que é atualmente diretor da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres. Além de ser um cientista renomado, ele é também um ex-diplomata, tendo servido como subsecretário-geral da ONU de 1994 a 2008. Quando Piot estava em seu o último ano do curso de medicina, na cidade belga de Gent, alguns professores lhe disseram que não havia futuro para uma especialização em doenças infecciosas, devido à grande disponibilidade de antibióticos e vacinas.

Mas o jovem Piot era fascinado por micróbios e apaixonado por como esses organismos microscópicos podem ter um impacto enorme em seres humanos. Por isso, ele decidiu ignorar o conselho dos mestres – uma decisão que o levou a se tornar um dos maiores especialistas em ebola do mundo.


Alguns anos depois de se formar na faculdade de medicina, ele se especializou em microbiologia na Escola de Medicina Tropical de Antuérpia. “Um dia, recebemos um recipiente com alguns frascos com sangue de uma freira morta em um país então chamado Zaire [agora República Democrática do Congo] e se acreditava que ela tivesse morrido de febre amarela”, conta.

O pesquisador e seus colegas isolaram, então, o que hoje é conhecido como ebola, um dos vírus mais letais já descobertos. “E, assim, eu acabei no meio da África, no Zaire, e esta foi a minha entrada apoteótica no mundo da saúde global, algo que sequer existia na época”, conta.

Quase quatro décadas se passaram desde a descoberta do ebola. Mas, com o anúncio feito pela ONU de que o atual surto em vários países da África Ocidental representa uma ameaça global para a paz e a segurança, Piot se vê mais uma vez na linha de frente da guerra contra o vírus mortal. Ele admite ter sido pego de surpresa pela grande escala da atual epidemia, que é a 25ª em toda a África.

“Todas as epidemias anteriores foram bastante limitadas em termos de tempo e espaço, geralmente afetando vilas ou pequenas cidades, e se extinguiriam após o clássico isolamento e quarentena. Mas neste caso é diferente”, diz.

Piot tem constantemente criticado a reação lenta dos parceiros nacionais e internacionais aos pedidos de ajuda para conter o surto. “Não vamos esquecer que, na Libéria, existe cerca de um médico para cada 100 mil pessoas, e neste meio tempo vários deles morreram infectados pelo ebola”, afirma.

As Nações Unidas criaram agora a Missão da ONU para Resposta Emergencial ao Ebola (UNMEER, na sigla em inglês). As primeiras equipes chegaram à África Ocidental na segunda-feira  passada.

Na Alemanha, a ministra da Defesa, Ursula von der Leyen, disse estar lisonjeada com a resposta à sua convocação de voluntários das Forças Armadas para ajudar na luta contra o ebola. Até quarta-feira, 2 mil militares e civis haviam se voluntariado.

Segundo Piot, o atual surto de ebola deve ser o último em que comunidades inteiras ficam isoladas e em quarentena. O que é necessário, diz, são estoques de vacinas e medicamentos em regiões onde o vírus pode ressurgir, de modo que a resposta possa ser imediata.

Piot foi citado pela agência de notícias alemã DPA,  na semana passada, dizendo que estava com medo de que o vírus se espalhe para além do continente africano. Um dos muitos indianos que vivem na África Ocidental poderia ser infectado, viajar de volta à Índia durante o período de incubação e lá infectar parentes e, possivelmente, também médicos e assistentes sem a roupa de proteção necessária, alerta o especialista.

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