quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Arremetida e queda

Brasília - gravador de voz do Cessna 560XL, prefixo PR-AFA, que caiu na cidade de Santos (SP) matando o candidato do PSB ao Planalto, Eduardo Campos, já foi localizado e está em mãos da equipe do Centro Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, Ceripa, de São Paulo. O gravador de voz traz os 30 últimos minutos de conversa na cabine, assim como as conversas com o funcionário de terra da base aérea de Santos.

Segundo informações obtidas pela reportagem, o piloto do avião entrou em contato com a estação de rádio da base aérea de Santos, ou aeroporto do Guarujá como é conhecido, informando que ia fazer procedimento de pouso. Em seguida, o piloto se comunicou novamente com o funcionário da base e avisou que não tinha encontrado visualmente a pista de pouso e arremeteu. Em seguida, não houve mais comunicação.

O Cessna 560 XL, prefixo PR-AFA caiu no meio de um quarteirão de uma vila residencial, atingindo 13 imóveis. De acordo com as equipes de socorro, pedaços da aeronave atingiram 13 imóveis - uma casa ficou totalmente destruída. “Não foi igual ao acidente da TAM (em 2007, em São Paulo), em que havia corpos carbonizados perto do avião. Nesse acidente não dá para achar nem as asas do avião. Não é possível saber onde estão os corpos. A gente não está achando os pedaços. Está muito difícil”, disse ontem à tarde o capitão do Corpo de Bombeiros Marcos Palumbo.

Chovia fraco no momento do acidente, mas as condições do tempo, os focos de incêndio e o rápido entardecer atrapalharam as buscas nos destroços e o resgate dos corpos das vítimas. No avião, além do presidenciável Eduardo Campos e os dois pilotos, viajavam quatro assessores da campanha.

O avião decolou 8 minutos antes do previsto do Aeroporto Santos Dumont, no Rio. O plano de voo apresentado pessoalmente por um dos pilotos à Sala de Informações Aeroportuárias, às 22h26 de terça-feira, previa que o jato partiria às 9h29. O voo decolou às 9h21, com previsão de chegada à Base Aérea de Santos por volta das 10h. Campos tinha compromisso de campanha no Hotel Jequitimar, no Guarujá.

A Infraero, por meio de sua assessoria, informou que essas pequenas variações de horário são rotineiras. Funcionários do aeroporto contaram que Campos, os assessores Carlos Percol e Pedro Valadares, o fotógrafo Alexandre Severo e o cinegrafista Marcelo Lyra não circularam pelo aeroporto. Seguiram direto para a sala vip da Líder Aviação, empresa contratada para fazer as operações aeroportuárias (embarque dos passageiros e envio de bagagens).

A aeronave era conduzida por Geraldo da Cunha e Marcos Martins, ambos pilotos contratados pela coordenação de campanha do PSB. De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a aeronave estava sob regime de “arrendamento operacional”, destinada a serviços aéreos privados. Todas as licenças operacionais da aeronave estavam regularizadas, segundo a agência. A última inspeção aconteceu em janeiro, com validade até fevereiro de 2015. Também o certificado de aeronavegabilidade, que confirma as condições operacionais do avião, estava válido até 2017.

Resgate e inquérito
Em terra, seis pessoas ficaram feridas. “Elas inalaram gás ou tiveram ferimentos em decorrência do calor do acidente”, disse o coordenador da Defesa Civil de Santos, Daniel Onias. Os feridos foram encaminhados para a Santa Casa de Santos. Nenhum corria risco de morrer.

Quarenta e cinco bombeiros trabalharam no combate às chamas. O fogo só foi extinto por volta do meio-dia. Agentes do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes da Aeronáutica (Cenipa), da Polícia Federal e da Polícia Científica entraram, junto com os bombeiros, na área da queda, onde permaneciam até o início da noite de ontem..

Sete militares do Ceripa foram deslocados para o local do acidente desde o início da tarde, para buscar informações sobre o ocorrido. A conclusão será dada pelo Cenipa, órgão nacional de prevenção e controle. Não há prazo para conclusão dos trabalhos, segundo a FAB.

A Polícia Federal (PF) informou também que abriu um inquérito para investigar o acidente. A investigação vai ser conduzida pela Superintendência da PF em São Paulo, Estado onde ocorreu o desastre. A PF também enviou, de Brasília para São Paulo, 11 peritos para estudarem os destroços e os restos mortais deixados pelo acidente aéreo que matou o candidato à Presidência da República Eduardo Campos. “Eles farão a identificação das vítimas do voo”, afirmou a assessoria da polícia.

grupo de peritos inclui especialistas em diversas áreas, como reconhecimento de DNA e de materiais explosivos. As análises permitirão saber, por exemplo, se houve alguma explosão na aeronave. Também está na equipe um perito em DVI (sigla em inglês para Identificação de Vítimas de Desastres Aéreos) que esteve recentemente na Ucrânia para trabalhar no local em que caiu um avião da Malaysia Airlines abatido por um míssil. A polícia não divulga o nome do perito.

O acidente
Avião deveria ter pousado na pista da Base Aérea de Santos, mas piloto arremeteu no último instante, afirmando que não via a pista devido à chuva e neblina no local. A torre não tevemais contato com o jato, até a colisão com prédios em um bairro próximo.


O avião
O avião usado por Eduardo Campos e a comitiva, para os deslocamentos pelo país durante a campanha eleitoral, era um Cessna 560XL, prefixo PR-AFA, com capacidade para 12 passageiros, fabricado nos Estados Unidos (veja quadro).  

De acordo com a Força Aérea Brasileira (FAB), o voo decolou do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, com destino ao Guarujá, no litoral paulista. A aeronave perdeu contato com a torre de controle logo após tentar realizar o pouso, por volta das 10h. Em nota, a FAB informou que o avião arremeteu após a primeira tentativa de pouso. “Em seguida, o controle de tráfego aéreo perdeu contato com a aeronave”, afirma a nota. “Arremeter” é a manobra de voltar a subir, momento antes de tocar a pista, que o piloto realiza em caso de perceber que o pouso não oferece condições de segurança. 

Moradores da região relataram ter visto o avião sobrevoando em baixa altitude desde a praça Mauá, no centro de Santos. Depois, ele teria sido visto em chamas antes de cair. A Aeronáutica não confirma a versão relatada por testemunhas. Chovia na hora.


560XL Citation Excel
Cessna Citation Excel 560XL é um avião a jato corporativo bimotor produzido pela fabricante norte-americana Cessna Aircraft Company.
Tripulação: 2
Passageiros: max. 12
Propulsion: 2 turbofan
Modelo do motor: Pratt & Whitney Canada PW545B
Potência do motor (cada):    18,3 kN    4119 lbf
Velocidade: 815 kmh    440 kts   506 mph
MMO (max. Mach): Mach 0,75
Teto de serviço:  13.716 m    45,000 pés

A equipe que estava com Eduardo Campos
Carlos Augusto Ramos Leal Filho, assessor
Conhecido como Percol, o jornalista de 36 anos era assessor de imprensa. Durante o governo de Eduardo Campos em Pernambuco, foi gerente de Relações com a Imprensa, assessorando diretamente o governador. Em 2012, coordenou a comunicação da campanha de Geraldo Julio, que se elegeu prefeito de Recife, e foi nomeado secretário de imprensa da gestão.

Marcelo de Oliveira Lyra, cinegrafista
Atuando como fotógrafo profissional desde 2000, foi um dos fundadores da agência Olhonu e atuou no coletivo fotográfico Santo Lima, ambos no Recife. Por causa do trabalho como diretor de fotografia na campanha de Eduardo Campos, ele havia acabado de se mudar para São Paulo. Deixa mulher, uma filha de 18 anos e um filho de pouco mais de um ano.

Pedro Almeida Valadares Neto, assessor de campanha e ex-deputado federal
Conhecido como Pedrinho Valadares, nasceu em Simão Simas (SE) em 1965. Foi advogado e deputado federal entre 1991 e 1995 pelo PFL; entre 1997 e 1999 pelo PP; e entre 1999 e 2003 pelo PSB. Mais tarde, assumiu mandato em 2008 e em 2010 como suplente pelo DEM.

Alexandre Severo Gomes e Silva, fotógrafo
Nasceu no Recife, em 1978, e morava em São Paulo. Formado pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e com pós-graduação em fotografia na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), Severo acumulou, desde 2002, importantes trabalhos e prêmios. No Recife, ele foi do Jornal do Commercio, Diário de Pernambuco e Folha de Pernambuco. 

Marcos Martins, piloto
Nasceu em Cruzeiro do Oeste, no norte do Paraná, se formou no Aeroclube de Londrina e foi criado em Maringá, cidade da qual o bisavô dele, Joaquim Fontes, era pioneiro. Segundo o pai do piloto, José Fuentes Martins, o filho trabalhava havia pouco tempo com Eduardo Campos e tinha bastante experiência internacional. Martins vivia em São Paulo. Tinha 42 anos e exercia a profissão há aproximadamente 15 anos. 

Geraldo Magela Barbosa da Cunha, piloto
Tinha 45 anos e há mais de 20 anos era piloto de aeronaves. Segundo a família, ele já tinha acumulado mais de 4.000 horas de voo. Desde junho deste ano, trabalhava dedicado à campanha de Eduardo Campos à Presidência. A mulher de Geraldo, Joseline Amaral da Cunha, está grávida de sete meses e se encontra nos EUA, fazendo compras para o bebê. O casal ainda tem um filho de quatro anos.


Tribuna do Norte

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